Quero criar uma amazon. mas de lixo (pausa para o seu riso). Uma cadeia de armazéns gigantes onde o lixo do mundo será stockado. E não pense em chamar-lhe lixeira. Incubadora é mais apropriado. Uma “sala de espera” onde todos os dias chegam milhões de peças de lixo, em trânsito para novas vidas e novas funções. O lixo é precioso demais para se deitar fora. É como o lego. No futuro, tudo será feito a partir de coisas que já existam e não de recursos naturais. O lixo será a matéria-prima Mas o futuro é daqui a muito tempo e eu tenho pressa. Imaginei a coisa assim. Todos os produtos têm códigos de barras. Se linkados a um mega-servidor, conseguimos monitorizar todos os produtos do mundo. Depois de cumprir o seu ciclo de (primeira) vida, cada produto não será destruído, mas vendido. Deitar fora, será deitar dinheiro fora. É posto num contentor e distribuído nos meus armazéns-incubadoras high-tech. O registo fica online em incubator.org, com ficha técnica (estado físico, funções passadas e potencial). É aqui que as empresas irão aceder para lançarem produtos novos. Sejam socas fluorescentes ou skates teleguiados. Pesquisam o “lixo” utilizável para construir e fazem a encomenda. Os produtos são entregues nas suas fábricas que os transformam em novos produtos. com novos códigos de barras. E pronto. Ganhamos uma economia de consumo sustentável. Mas falar é fácil. E foi por aqui que comecei. Liguei a um amigo de infância que tem um cunhado doutorado em gestão de resíduos. Este leu o meu projecto, passou-se e largou a universidade. Ganhei um sócio e credibilidade. Uma incubadora de start ups deu-nos o ok. Agora já tínhamos escritório e backoffice à pala. Na sala ao lado, 3 miúdos sobredotados tentavam lançar um projecto de bases de dados inteligentes, que reconheciam key words & conteúdos & relevância. Queriam compilar info sobre óvnis. Uma almoçarada depois, já só falavam de lixo e de salvar o mundo, em vez de fugir dele numa nave. Seis meses (e muitas conference calls) passaram. Fomos tendo acesso a milhões de códigos de barras. Ninguém nos cobrou nada, mas não houve almoços grátis. Ganhámos sócios de indústria. E de sócio em sócio, “código-barrámos” o mundo. Ou 70% de tudo o que se produzia nele. Já era alguma coisa. Inscrevemo-nos num ciclo de conferências online de IT. Impressionámos e arranjámos financiamento. A câmara cedeu-nos uns hangares abandonados. Faltava a maquinaria. O meu sócio puxou dos galões de ex-professor. Em breve, 150 alunos montavam um projecto de robótica, numa plataforma online. E um vídeo 3D como tutorial das incubadoras. Semeámos o vídeo em redes sociais e green vlogs. Gerou buzz. De repente, japoneses e sul-coreanos competiam pela oportunidade. E os hangares ganharam uma rede de braços mecânicos state-of-the-art. Tudo isto era muito bonito, mas faltava algo a que não podíamos fugir: não a morte, mas a política. Enquanto fosse mais barato sujar o planeta, o lixo seria empilhado e nós seríamos mais uma lixeira. Falei com um amigo da Comissão Europeia. A Europa queria dar o exemplo e precisava de exemplos. Voámos para Bruxelas e adivinhem quem recebeu luz verde? Ah pois é! Com novas leis e a bênção de Bruxelas, as portas abriram-se. As primeiras encomendas chegaram, bem como as primeiras descargas. Com direito a discursos, corta-fitas e directo na tv. A 1ª peça a entrar na incubadora foi uma vassoura. Símbolo de um tempo em que as coisas eram postas de lado. Mas a partir de agora tudo vai ter uma 2ª oportunidade. A vassoura, o planeta, nós.
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